O data center do banco Credit Union of Colorado, em Denver, nos EUA, está prestes a encolher. E para o administrador de redes sênior da instituição financeira, Tom Gonzales, essa é uma excelente notícia. “Usamos mais espaço que o necessário e vamos devolver isso à companhia”, diz. Seu mantra é quanto menor, melhor, em se tratando do data center, fator que ganhou mais importância com a crise econômica. A tendência está sendo seguida por outros profissionais de TI, todos buscando tornar o datacenter mais compacto. E a receita para alcançar o cenário ideal é adotar virtualização, saber como lidar com densidade de dados e usar hardware multifuncional, além de utilizar fontes alternativas deenergia e técnicas de projeto modular. A economia é refletida na conta de energia elétrica, na redução do custo de propriedade e no gerenciamento simplificado da infraestrutura.
No banco norte-americano, por exemplo, a virtualização dos servidores foi importante para reduzir os requisitos de espaço do data center, enquanto simplificou e tornou mais eficiente a infraestrutura. “Nós costumávamos manter 40 caixas. Agora temos 12 racks de servidores e o plano é consolidar para apenas quatro”, diz Gonzales. A consolidação dos servidores e recursos relacionados no Credit Union of Colorado deixou o velho data center com espaço em excesso. “Tentamos convencer a empresa a nos dar mesas de bilhar, porque há espaço mais do que suficiente”, diverte-se. Na verdade, a área que agora está disponível será muito bem utilizado pela instituição financeira, que conta com mais de 80 mil funcionários e precisa de espaço físico para colocar tanta gente para trabalhlar. “Estamos no centro de Denver, uma área bem cara. Esse espaço será revertido para garantir novas estações de trabalho”, afirma Gonzales.
Apesar de trazer resultados, a redução do tamanho do data center não deve ser o único foco dos esforços para corte de custos, alerta o vice-presidente da área de data center da IBM, Steve Sams. “O espaço físico ocupado não é o principal no custo de data center, que representa de 7% a 10% do seu orçamento”, afirma. Segundo Steve, o principal gasto de um data center está no consumo de energia elétrica e na infraestrutura de refrigeração, que inclui todos os aparelhos, geradores, fontes de energia sem interrupção (UPS), distribuição de energia, etc. Para o banco de Denver, a redução do tamanho do data center cortou cerca de 33 portas de energia e dois circuitos, de acordo com Gonzales. Apesar disso, o executivo não consegue especificar a economia em dólares, pois a empresa não conta com ferramentas para realizar essa medição.Os líderes de TI também precisam prestar atenção para a melhoria de capacidade do hardware disponível. Por meio do uso de hardware mais denso, é possível equacionar a economia com o aumento de cargas de trabalho que os negócios demandam. “A tecnologia está ficando cada vez menor”, destaca Sams.
Mais redução
O diretor de serviços de TI da Universidade de Victoria, em Melbourne, Austrália, Phil County, é mais um dos líderes que procuram se beneficiar de um data center compacto. County está supervisionando a construção de um complexo de data center que será grande o suficiente para atender a necessidade da computação e de rede da universidade, mas pequeno o suficiente para economizar em hardware, uso de energia, espaço físico e outros pontos de economia. “Nosso objetivo é manter o menor datacenter possível. Para tanto, estamos criando um novo tipo de data center, bem diferente daqueles que ocupam campos de futebol”, afirma County.
O desafio é grande: a Universidade de Vitória opera 11 campi e outras unidades na área chamada de grande Melbourne, oferecendo serviços a mais de 45 mil alunos. A instituição vê o novo complexo de data center, alocado em duas unidades, como crítico para a realização dessa atividade e para dar suporte às atividades administrativas. “Precisamos garantir nosso crescimento futuro e planejar, desde já, o atendimento às necessidades dos próximos dez anos, incluindo energia, refrigeração, espaço físico e capacidade”, diz o diretor.
Apesar da operação em dois locais físicos, a universidade está criando um único data center lógico que oferece redundância e flexibilidade para as operações. Virtualização, racks de alta densidade e desenho modular vão permitir que a instituição diminua seu consumo de energia. O data center também utilizará refrigeração enfileirada, focando na fonte de calor, combinado à refrigeração gratuita do inverno de Melbourne. “Quando a temperatura chega a 15oC, a temperatura ambiente passa a ser utilizada, com menor uso dos compressores e eletricidade. Quando chega a 5oC, a temperatura ambiente faz todo o trabalho dos compressores”, detalha County. O sistema é configurado para garantir que todo o processo ocorra com mínima intervenção humana. “Toda vez que a temperatura ambiente atinge valores determinados, o sistema já toma as providências”.
A universidade utilizará também pequenos módulos UPS para maximizar o total de energia consumível e otimizar a eficiência. A expectativa é que o data center consuma 45% menos energia que uma planta comum, com potencial de economia de 300 mil kilowatts por ano. Com o novo data center tomando forma, County está consolidando também servidores e outros equipamentos que antes estavam espalhados em diversos edifícios. “Já centralizamos mais de 350 máquinas e reduzimos o número de caixas para cerca de 240”, contabiliza.
Nos casos de sucesso, a virtualização desempenhou um importante papel na redução de tamanho dos data centers e dos custos. O co-fundador da empresa especializada em projetos de data centers Kovarus Technology Solutions, Peter Castaldi, comprova a hipótese com números. “Cada servidor físico consome uma quantidade fixa de energia o tempo todo, não importa se é muito ou pouco usado. Cada servidor virtualizado representa um impacto imediato nas contas”, afirma.
A virtualização também leva a um data center mais produtivo e de melhor desempenho. “A tecnologia muda muitos processos e melhores práticas. Muda a forma como você usa hardware, armazenamento, redes. A maioria das coisas muda para a melhor”, avalia Castaldi.
A virtualização também força os líderes a prestarem mais atenção à forma como eles configuram e rodam os sistemas. Mas o esforço é compensado pelo resultado, diz Castaldi. Os benefícios, segundo ele, são redução de Capex, custos operacionais, melhoria dos planos de recuperação de desastres, entre outros resultados que se pode esperar da redução do data center. “E é tudo facilmente justificável, pois são custos diretos”, ressalta.
Os benefícios são tão evidentes que os líderes já buscam virtualizar tudo o que é possível na infraestrutura da empresa: armazenamento, desktops e até laboratórios de automação. “Tudo isso pode ser colocado no jogo do data center para economizar de diversas formas”, pontua Castaldi.
Reformulação
A empresa de saúde Sister Mercy Health é mais uma com projetos complexos de consolidação de data center. No passado, a companhia, que opera 18 hospitais, acabou tendo que lidar com sete plantas, tornando essa redução mais difícil.
A organização agora está trabalhando em um data center compacto projetado para atender sua necessidade em termos de fluxo de trabalho, configuração, uso de energia e outras áreas críticas. Mas antes que a construção seja levada adiante, a Mercy precisou encontrar um lugar para instalá-lo. O desafio, segundo o diretor executivo para data center da companhia, David Shaw, era manter o data center longe das principais possibilidades de falha. “Também queríamos ter certeza de que haveria acessibilidade em termos de conexões de alta velocidade”. Para tanto, a escolha foi um lugar bastante próximo à matriz da compania, em St. Louis, Missouri (EUA).
Ao desenvolver o data center, o objetivo de Shaw era manter a planta o mais compacta possível, considerando as altas cargas de trabalho relacionadas a negócios e serviços médicos. O diretor executivo escolheu um projeto modular que permite a uma redução ou expansão veloz do data center de acordo com as necessidades da Sister Mercy Health.
Conselhos para as empresas
O maior desafio na redução de tamanho de um data center é o planejamento. Todo o projeto deve ser feito cuidadosamente, de forma que tudo se encaixe quando estiver finalizado. “Nos dias de hoje, não há espaço para desperdícios”, observa Gonzales.
Outra questão que costuma surgir é um certo desconforto nos líderes de TI e em sua equipe que acreditam que vão perder o domínio sobre a infraestrutura da empresa. Gonzales diz que é necessário deixar claro que um data center menor não reflete nas habilidades e na qualificação da equipe. “Somos julgados pela qualidade do trabalho e não pela área que ocupamos na companhia”, afirma.
Outro temor é de um eventual impacto no tamanho da força de trabalho, mas diminuir o data center não significa, necessariamente, redução da equipe. “Pode até melhorar, já que a equipe trabalha de forma mais inteligente e os líderes de TI têm a oportunidade de mostrar mais valor”, pondera Castaldi.
Tarefas como backups e relatórios são reduzidas ou eliminadas nos novos tipos de data center, mas atividades mais complexas, como aplicações e serviços de rede continuam precisando de profissionais qualificados.
Fonte: http://computerworld.uol.com.br/tecnologia/2010/04/05/como-encolher-um-data-center/